Dizem por aí que o oposto da criatividade é a cópia.
Discordo! (com exclamação e tudo) O avesso da criatividade é o bloqueio. Só
quem já passou por um período de incapacidade criativa sabe o quanto isso dói.
Fiquei a semana toda tentando achar um assunto que me fizesse escrever alguma
coisa e só me libertei quando percebi o motivo desse travamento sem sentido: eu
queria escrever sobre o bloqueio.
Acho que todas as pessoas passam por isso, mas para quem
convive com a criatividade esse é o monstro mais feio, daqueles que ao invés de
se esconder no armário, escode todo o resto e fica passeando pela cabeça vazia,
se mostrando, zombando do autor desesperado que quase sempre tem um deadline
pra cumprir. Até que ou ele sucumba e produza algo sem sabor ou encontre uma
arma efetiva e mate o bicho. Mate temporariamente, porque o bloqueio tem o
péssimo hábito de ressuscitar. Não no dia seguinte, não na semana seguinte, mas
em algum momento, sorrateiramente e quando o artista menos esperar.
Não existe uma fórmula para evitar o bloqueio, mas existem
algumas medidas que podem enfraquecê-lo. Uma delas é a biblioteca de referência,
às vezes uma passeada por lá resolve o problema, outra é o “caderno de autor”,
um nome chique para aquele caderninho usado, sujinho e rabiscado que deveria sempre
acompanhar os artistas (ou pelo menos os mais obsessivos com eu), mas quando o
monstro tem o couro duro o jeito que encontrei é olhá-lo nos olhos e dizer quem
manda. Bem mais fácil falar do que fazer... Mas funciona. Foi assim que sentei e
resolvi expor meu monstro para mundo, escrevendo esse texto, e com isso ele
desapareceu.
Já sofri muitos bloqueios na minha carreira de fotógrafa, e
muito raramente isso me impediu de produzir com qualidade. Muitas vezes me
obrigo a começar pelo óbvio, pelo cliché e a partir daí vou me soltando e acabo
quase sem perceber com um trabalho bom nas mãos.
As fotos a seguir são de um trabalho produzido sob a sombra
do temível. O ambiente onde foi clicado é o meu estúdio, ou melhor, seria
porque ainda estava sendo reformado. Eu queria fazer alguma coisa lá antes que
ele fosse revestido e pintado de branco, o que acabaria com o clima de masmorra,
mas não sabia exatamente o que buscava. Protelei o máximo que pude, procurando a
fagulha da inspiração, mas foi quando o pedreiro me disse que na segunda
começaria a passar a massa que me muni de coragem, e da minha fiel câmera, e
passei o fim de semana na obra. Comecei a clicar a esmo e aos poucos o conteúdo e o contexto
me atingiram como uma bigorna e o resultado final foram dezenas de imagens,
entre elas essas aqui.