Nesse último mês estive em alguns
eventos relacionados à arte contemporânea, um deles foi o congresso Transmuseu,
realizado pelo MAM-SP, que era um ciclo de encontros de artistas, museus,
galeristas e outros, voltado para a relação entre os museus e as novas mídias.
Nessas mesas foi discutida, entre outros assuntos, a tendência dos artistas
contemporâneos de criarem com materiais perecíveis. Foi posta a dificuldade da
aquisição da obra de arte, uma vez que sua conservação é, pra falar pouco,
complicada (às vezes impossível). Uma das soluções apresentadas foi a compra do
“know-how” da obra, ou seja, o artista vende o projeto, com todas as
especificações técnicas para possibilitar a reprodução da obra e o museu recria
a mesma conforme sua necessidade. Achei isso muito interessante por dois
aspectos principais, primeiro a obra de arte perde a fragilidade e com isso
passa a poder ser exposta em ambientes não museológicos (lugares onde as
condições ambientais não são perfeitas) como ao ar livre, ou lugares sujeitos a
umidade, poluição, calor, etc. A qualidade do local da exposição deixa de ser
uma preocupação porque uma vez que o museu consegue reproduzir a obra, os danos
causados durante o período de exposição passam a não importar mais, no máximo a
obra será destruída e refeita para a próxima mostra. Depois porque a arte passa
a refletir a volatilidade da sociedade atual. Em um mundo onde nada é permanente
por que a arte deveria ser? E considerando que o principal interesse de um
museu é a preservação da obra adquirida, acredito que mesmo permitindo a
reprodução controlada, o autor não corre o risco da deturpação do seu trabalho
original. A obra é perene, mas a ideia é reapresentada a cada show, de forma
que enquanto houver interesse em se mostrar a obra, o conceito é permanente.
Nessa quinta-feira fui visitar a
SP-Arte, no pavilhão de bienal em São Paulo, e me deparei com uma galeria especializada
em vender “projetos” de arte. Uma das peças comercializadas por eles é um
pacote de balões com palavras de incentivo (uns 15 balões mais ou menos) por R$
50,00. Esse projeto foi criado pelo artista para decorar uma festa da cantora
Lady Gaga, e agora se encontra a disposição do público. Outra peça da mesma
galeria é um estêncil de uma rosácea usado para se criar um padrão regular em
uma parede, no estande da galeria tinha uma parte pintada de acordo com a ideia
da artista. Um modelo do resultado final. O kit era composto pelo estêncil em
acetato e uma peça com o mesmo desenho recortada a laser em uma placa de acrílico
transparente. Essa peça poderia ser montada junto à parede, de acordo com o
gosto de quem compra o conjunto.
Aí me veio uma dúvida... Ao
contrário dos museus que estão usando a reprodutibilidade como solução para o
problema da conservação das obras perecíveis, as galerias comerciais oferecem a
possibilidade de reprodução de uma obra concebida por um artista, mas onde não
há nenhum controle sobre a fidelidade da execução da peça final em relação à
ideia original. Posso comprar aquele estêncil e usar para decorar a parede da
minha sala com as mesmas cores e padrões concebidos pelo artista ou para fazer
uma cortina, um móvel, um quadro e o que mais me vier à cabeça. Mas aí a obra
já não será a planejada pelo autor. Seu significado, suas questões, suas
simbologias originais, não mais existirão. E eu me pergunto afinal quem é o
autor, o artista que idealizou a obra, ou aquela pessoa que comprou o kit e se
utilizou dele em sua casa?
Se o “self-made” é uma moda passageira
ou uma tendência que veio pra ficar, só o tempo nos dirá, mas, se permanecer,
com certeza vai nos obrigar a repensar todo o conceito da arte.
Os museus refazem as obras seguindo rigidamente as orientações e as normas no projeto do autor, de forma a tentar minimizar as diferenças entre o original e as versões futuras. Não é interesse do museu modificar as obras originais, afinal isso depreciaria o valor histórico e o valor financeiro da obra. E menos ainda reproduzir mais do que uma cópia, porque isso acabaria tanto com a reputação daq instituição, como faria a obra perder o valor.
ResponderExcluirAs obras comercializadas nesse formato a baixo custo, no meu ponto de vista, seriam bens de consumo e pela impossibilidade de revenda perderiam valor.
Do ponto de vista criativo a integração artista-obra-consumidor gera muitas possibilidade de evolução da obra e aí sim teria um grande valor artístico (não financeiro).
Interessantíssima a venda do conceito da obra ("projeto" de arte), para que o destinatário final (consumidor, colecionador) aproveite ou realize a montagem do projeto/conceito de forma livre. É uma questão polêmica do ponto de vista financeiro e valorativo da obra de arte, mas rende um excelente e profundo debate sobre o tema! Parabéns pela abordagem instigante!
ResponderExcluir